domingo, 9 de setembro de 2018

O Canto do Rio ainda ecoa!

I LOVE LAJE NO FOMENTO À CULTURA DA PERIFERIA

Em 01 de janeiro de 1941 data a fundação do Grêmio Desportivo e Recreativo Campo do Rio do Itaim. 

Seu campo construído no Parque do Povo, ao lado do riacho do Sapateiro, onde hoje passa a avenida Juscelino Kubitschek.

A área começava ao lado da Ponte Cidade Jardim, e passou a ser utilizada para a prática do futebol varzeano em 1934, e chegou abrigar 14 campos em 1962.

Ali se concentraram grandes clubes da várzea paulistana. Revelando jogadores para o profissionalismo introduzido em 1933, no campeonato paulista organizado pela Associação Paulista de Esportes Atléticos. 

Motivador, o futebol varzeano era destaque no Diário Popular. Seus campeonatos reuniam centenas de equipes. 

O Canto do Rio, em 1968, foi campeão da zona oeste e 3º colocado na classificação geral.

Um celeiro de craques. O Parque do Povo foi tombado em 1995, garantindo a permanência dos 8 campos existentes, além do Circo Escola Picadeiro e o Teatro Vento Forte.

Entretanto, o mercado imobiliário e segmentos interessados na valorização do Itaim Bibi, acharam inadequado o uso popular e entraram com um processo de requalificação do Parque.

Tendo por base o desvirtuamento da prática determinada, os times acusados de invasores, com pessoas alheias assumindo os espaços e se beneficiando particularmente em detrimento dos clubes e o patrimônio a que representavam.

Foi uma ação avassaladora. Ao invés de afastar quem  a estava degradando, a prefeitura de São Paulo, administração Gilberto Kassab, em 2006, puniu a todos.

Desqualificando totalmente o projeto original, o Parque do Povo teve todo seu complexo esportivo e cultural destruído, não restando um campo sequer para registro de memória.

Para termos uma ideia da força desse time varzeano, o GDR Canto do Rio do Itaim disputou o Campeonato Paulista sub 17, de 2005, ao lado de...

Corinthians, São Paulo, Juventus, Banco do Brasil, Banespa, Indiano, Ipê, Paulistano, Macabi, Mesc e Ipiranga...

E encarou a todos com um futebol esperto, coletivo, que o levou ao título de Campeão Paulista, da categoria.

Um feito inédito, e desconheço outro igual. Um trabalho desenvolvido em equipe, tendo a frente o técnico Marcos Donizetti (1º esq) que hoje é o presidente da agremiação azul e branco. 

O campeão Canto do Rio jogou com: 

(Em pé) Marcos Donizetti, Cauê, Rodrigão, Pedrão, Vitor, Bissi, Renato, Macaco, Marquinhos, Gabriel e o assistente técnico Parede. 

(Agachados) Duany, Marcelo Matos, Rafael, Rodriguinho, Ítalo, Paulo e Beto. 

Desconsiderar um trabalho como esse, numa cidade em que a classe popular não tem espaço para se dedicar ao esporte ou lazer, cultural e social...

é uma arbitrariedade que a Prefeitura de São Paulo, em 2006, acobertou e cometeu.

Mas esse Canto do Rio é teimoso e resiste! Inicialmente a sede ficava à Rua Heloísa, depois na Joaquim Floriano...

e agora na Rua Gabriel de Lara, Vila Cordeiro, espaço próprio, onde, sábado, 01 de setembro, reuniu toda a família e simpatizantes para uma bem elaborada feijoada. 

Mais de duzentas pessoas foram degustar a iguaria.

Estivemos presentes a convite do amigo André (dir) ladeando o Cito, Francisco Luiz Silva, exímio meia-esquerda, irmão do médio volante Tião, que jogou no Canto do Rio e defendeu o Corinthians entre 1968 e 1977, fazendo uma dupla marcante com o craque Rivelino. 

Satisfação lá encontrar o Zezé (1º dir), bom de bola e de convívio, relembrando passagens do Canto do Rio e do EC Jd Roberto, em Taboão, onde goza de maior prestígio também. 

Ao seu lado, o cara certo. O Kimbo, ex goleiro do time, foi quem deu sabor à boca de todos os convivas; fazendo o feijão preto protagonista da arte. 

Em seguida, o Mauro, zagueiro central do SC Corinthians, atuando entre 1978 e 1987...

Mauro, bicampeão corinthiano em 1982/83, ao lado de um timaço formado por: Solito, Alfinete, Daniel Gonzales, Wladimir, Paulinho, Sócrates, Zenon, Ataliba, Casa Grande e Biro-Biro. 

Permaneceu dez anos no time, coisa que não acontece mais. Mauro, no Canto do Rio ou Martinica, sempre prestigiando a nossa várzea.

Com ele, um expoente  histórico do Canto do Rio, o ex presidente Alpheu Feddersen. 

O trabalho social do clube é estimulante.

Presente, o Roque (dir), entre amigos, fez suas incursões profissionais e é figurinha carimbada no futebol varzeano do Campo Limpo e região.

Pra animar a festa, o pagode não podia faltar.

O prazer em receber pessoas é tempero na medida: Sandra, Claudionor, Sunao, Kimbo e Paulina.

Diante da galeria de troféus, Alcides Magri, aos 79 anos. Atuou em oito gestões como Diretor de Esportes e foi fundamental na história do Canto do Rio, relembrando com tristeza o dia, da agressividade dos tratores destruindo o campo. 

Pioneiro na várzea em fomentar um time feminino, fala com alegria desse tempo quando teve que superar o preconceito de alguns integrantes da própria diretoria, para iniciar os treinos.

Entretanto, Alcides insistiu e a recompensa logo viria com uma medalha de prata, a de vice campeão em Ourinhos. 

O time ainda amealhou outras taças e troféus em Festivais na cidade de São Paulo, que ele nos mostra com orgulho. Ao recordar se emociona: 

- Foram três anos, de 2003 a 2006, e só paramos porque perdemos o campo. Mas valeu a pena, a partir do momento que as meninas confiam, elas são muito fiéis. 

Infelizmente, na parede da sala principal da sede que abriga uma exposição de fotos, não há nenhuma imagem do talentoso time feminino do Canto do Rio.

São 77 anos e a força do Canto do Rio persiste. Há o time de veteranos que continua em atividade.

Mas o Canto do Rio quer mais. Busca um campo na periferia onde possa desenvolver seu projeto de trabalho.

E essa resistência só é possível graças a sua organização, hoje presidida pelo Marcos Donizetti das Neves. 

Burocraticamente, os órgãos públicos desconhecem o valor e a grandeza que o futebol varzeano proporcionou e pode realizar em termos esportivo, social e cultural.

No requalificado Parque do Povo está vago o espaço onde era o campo do Clube do Mé. 

Sem atividade alguma, o Conselho Gestor do Parque inviabiliza a prática do futebol ali, razão e argumento que levou a preservação daquele patrimônio popular.

A restrição passou da hora de ser rediscutida. Afinal, quem é o dono do Parque do Povo, agora?

Justiça se faça. Altaneiro, mesmo distante da paisagem perdida, o Canto do Rio ainda ecoa!

Reportagem: Marco Pezão e Alai Diniz

Edição final: Marco Pezão


Agradecimentos ao José Carlos André e a todos componentes do GDR Canto do Rio, pela acolhida. 

DO CAMPO LIMPO AO SINTÉTICO

POESIA SEM MISÉRIA

A VÁRZEA É ARTE

A VÁRZEA É VIDA

PARTICIPE!

Esse projeto foi contemplado pela 1ª edição do Programa de Fomento à Cultura da Periferia da cidade de São Paulo

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns ao canto do rio joguei muito aí no campo tomara que consiga um novo campo