segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Rodeando o campo, a garra feminina

I LOVE LAJE NO FOMENTO À CULTURA DA PERIFERIA

O campo atrai olhares. E quem vê este campo quer jogo. Claro! A arena do Jd. Rosana mantém a cultura varzeana do futebol. Quem assiste pode entrar no Clube da Comunidade por um portão de acesso a esse local público. Ou quem preferir acompanha lá de cima, na Avenida Carlos Lacerda. E aqui  me interessa quem afinal fica, em geral, fora do foco.  

Fora do foco, na sombra, nos arredores, no extracampo, fora das luzes, dos holofotes. Olhar de quem não está em jogo, mas está no jogo da vida e insiste em manter sua sobrevivência. Essa alegria contagia por ser visível a olho nu, como Edineide que cria seu bombom e o oferece ao público nas arquibancadas.  
Grandes jogadoras! Assumiram um modo de cavar seu próprio sustento. Não temem pegar no batente e o da porta existe não para encosto, mas pra um breve descanso. 

Em um  mundo cinzento de morros, insetos e libélulas, de becos que se desviam de lixo, esgoto e vidro, as cores da vida na madeira avivam a garra de quem aceita o que for importante pra sobreviver...

Eis uma mulher que há dez anos alegra o entorno da Arena Casarão, Rosana Reis é a dona do "Boteco da Rô". Sua feijoada já ganhou prestígio e a simpatia da proprietária faz jus à fama.
E fica ali bem em frente ao Arena Jd. Rosana. Sua feijoada mantém o padrão e, no intervalo, a plateia  sente que o estômago merece uma compensação.
Rô roda uma ciranda entre o balcão e a cozinha em uma posição que é de volante e zagueira na defesa do ganha-pão familiar.  

 
Rosa, Filhos, Netos fica ali mesmo na Avenida Carlos Lacerda  e começou de longe com  Rosa em uma banquinha que, coberta, serve hoje pra atender quem passa... Seja Maria, José ou Jesus pra combinar com  a data do Natal.

Aqui joga quem vai na bola da vez  e faz seu próprio gol no empreendimento que toca, rodeando a arena do Jd. Rosana. 

Em meio ao ruído incessante dos monstros urbanos, movidos a álcool, diesel, e gasolina, Rosa, Filhos e ajudada também pelas netas, construiu o "Maria passa", em 3 metros quadrados de suor, na calçada da Rua Carlos Lacerda, de costas para o único espaço de lazer no Jd. Rosana, o Clube da Comunidade/ Arena Rosana.  A duras penas, um bem que hoje vai sendo colorido pelo grafitte.

Além dessas mulheres empreendedoras, há uma jovem dona de bar na rua detrás da igreja do Jd. Rosana. Essa jovem conheci jogando no campo do Jd. Umuarama. Era uma das Casarets. Na foto, Naty é a única jogadora que está sem uniforme, de boné, diante do técnico José Roberto. 

Pois é, agora Naty trabalha no Jd. Rosana. Na Rua Candida Bernaldo de Jesus.  E o Bar da Naty é onde sua habilidade surge em outro jogo bem desafiador para uma jovem de 25 anos. Ela toca seu próprio bar, distribuindo o que sabe fazer,  aquela simpatia. Naty se impõe em uma jogada audaciosa, mas talvez o fato de ter sido jogadora em um campo da várzea tenha dado a ela o direito, o jeito e a capacidade pra fazer seu próprio caminho independente.
A criança ou adolescente que participa de um esporte coletivo, consegue desenvolver suas potencialidades, confiança em si e aprende a lutar pra estar onde quiser. 

Na visita do grupo I love laje com Marco Pezão e Tubarão pudemos constatar o carinho com que Naty trata seus clientes... 

Sem nunca descuidar de Daniel, seu sobrinho querido, mascote das Casarets, quando ela jogava no time feminino da Família Casarão. O sorriso especial do sobrinho marca uma infância de carinho com o desvelo de Naty.

Oxalá outras jovens tenham a chance de desenvolverem suas potencialidades como Naty. Para isso, as escolinhas de futebol nos Clubes da Comunidade poderiam estimular a acolhida a meninas. 
Vemos em Naty a calma pra assumir  um papel  maternal, mostrando afeto e se desdobrando para cuidar do sobrinho, mas também conquistando um lugar no mundo: o de empreendedora. 

Hoje o seu campo é outro. E nada a impede de dirigir seu bar com coragem e desprendimento.  Admiro em Naty, Rosa, Rô, Edineide  a independência em uma função pública no Jardim Rosana e seja em casa, no campo ou em seu negócio, as mulheres vão  abrindo caminho, agindo com  garra, dignidade e determinação. Por isso merecem ser tratadas com profundo respeito!

Reportagem: Alai Diniz 

Edição: Marco Pezão


DO CAMPO LIMPO AO SINTÉTICO


POESIA SEM MISÉRIA

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Esse projeto foi contemplado pela 1ª edição do Programa de Fomento à Cultura da Periferia da cidade de São Paulo