quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Um suburbano em Boiçucanga

Fomos convidados para participar do Sarau Suburbano Convicto, completando um ano de atividades, em Boiçucanga, São Sebastião, e que marca uma nova fase na vida do escritor e cineasta Alessandro Buzo.

O encontro comandado pelo amigo Buzo segue a linha do seu tradicional Suburbano Convicto, apresentado semanalmente às terças-feiras, 19h, no Bixiga, há 7 anos. 

Agora, na baixada, o sarau acontece toda primeira segunda-feira do mês.

Partimos da Lapa, eu e Otília, na companhia do poeta Paulo D’Auria e Cissa Lourenço, levando nossos livros e poesias para divulgar no festival programado.

Assim, dia 7 de novembro, estivemos no Bar Cartola compartilhando a harmonia ali existente. Lotado. 

Em se tratando de pegar, pegou. É o rastilho da pólvora. 

Ao menos 30 pessoas deram vozes a poemas, raps e canções.

Ao lado do Buzo, Toni e Chantelee, do Listras Negras, bateria e guitarra, criando acordes. 

O microfone aberto reúne e une. Durante duas horas saboreamos convivência e diversidade.

E, entre elas, poder ouvir a Ariela declamar ‘Embriague-se’, de Baudelaire, e outros clássicos, com tamanha sapiência, foi um arraso.

Sarauê!

Não há palavras para tantas imagens colhidas e registradas durante os três belos dias em que lá permanecemos. 

Solzão a reinar. Nada de chuva. 

Somente uma imensidão, que aos olhos de quem mora entre muros no Campo Limpo é desconcertante.

O baguio é louco. Diante do mar me lembrei de um amigo que ao chegar pela primeira vez numa praia, exclamou: 

- Que puta lagoa!

E eu fiquei cabreiro quando na segunda-feira o Toni preparou o passeio para conhecermos as ilhas que ficam alguns quilômetros mar adentro. 

- Vamos de bote? Vige!

E fui para um deleite nunca antes experimentado. O mar é verde como teus olhos, diria o poeta.

O timoneiro Toni é repleto em conhecimentos e o passeio foi uma aula. Cada ilha seu detalhe, história. 

Aportamos numa. E, então, cercado de água por todos os lados, caminhando entre rochas, a salvação.

No meio das árvores, o oásis. Uma barraca. Isopor e cerveja. Peixe pescado fresquinho...

- Que venha uma porção de tudo!

- Mano, você vive aqui?

- Vivo na ilha, e vivo da ilha...

Poetou, fudeu!

A bordo do bote 4x4, possante cavalo a cavalgar as águas de Netuno, e eu me sentindo um potro selvagem a te imaginar nua na areia prateada.

Viajei na onda. Me banhei e bebi. Me inundei ao sabor da poesia. 

Disse pro Toni:

- Quando, em sampa, eu estiver estressado. Venho buscar essa recordação.

Ainda, agora, revendo as fotografias enviadas pelo Paulo, a Sissa, o Buzo e a Marilda, percebo que o mês já se passou.

E do lado inverso do poema, o cotidiano é um batedor de massa. 

Donald Trump se tronou presidente, Fidel Castro morreu, o avião da Chapecoense caiu... 

...e para alegria nossa, o Palmeiras é campeão brasileiro.

E meio a tantas (in) diferenças e fatos tragicômicos da nossa política, estamos numa ansiedade danada por conta do projeto... 

‘Do Campo Limpo ao Sintético, Poesia Sem Miséria’, classificado no edital do Fomento da Periferia.

Joguei bola no campinho da casa do Buzo. Ficamos na pousada do Ricardo, um encanto. 

Compartilhamos momentos que me são inesquecíveis. 

E, a Oxalá, que reina acima da terra e do mar, somente a agradecer:

Alessandro Buzo, Marilda, Evandro, Paulo D’Áuria, Cissa Lourenço, Toni, Celia, Ariela, Chantelee, Otilia...

Um beijo no coração de cada um.

Nóis é bote e atravessa qualquer mar!

Do amigo, Marco Pezão