terça-feira, 25 de março de 2014

Memorial da Várzea

Portuguesa dos Oliveiras FC
Fundada em 01 de outubro de 1950 
 
Corria o ano de 1950, e Taboão ainda pertencia à comarca de Itapecerica da Serra.

Getúlio Vargas era o presidente da república.

E o Brasil havia acabado de perder a 4ª Copa do Mundo, em sua própria casa,  no dia 16 de julho para o Uruguai...

calando o Maracanã, lotado, com quase 200 mil pessoas.

Invicto no certame, os brasileiros precisavam apenas de um empate. Friaça abriu o placar aos dois minutos da 2ª etapa.

Mas o cala-boca veio em seguida, com Juan Schiaffino, aos 27 min,  e Alcides Ghiggia, aos 34 min, virando o resultado da partida.

Apesar da derrota sentida, a paixão pelo futebol já se tornara mania nacional. 
 
Assim, em Taboão, os amigos Benedito Coelho, Benedito Lourenço Moraes, Leonidas Duarte, Antonio Raimundo, Angelin Derenze, Jurandir Soares e Aristides de Jesus Neto...

resolveram fundar a Portuguesa dos Oliveiras FC, na data de 1 de outubro de 1950, em homenagem a colônia portuguesa e ao bairro dos Oliveiras, onde residiam.

Mas foi pelas mãos de um alemão, aqui radicado, Paulo Hermann Portmann, que, assumindo a presidência em 1955, comandou o engrandecimento da equipe lusitana durante vinte anos.

Antes, os presidentes foram: Benedito Coelho, de 1950 à 1952, e Teodoro Franco, de 1953 à 1955.

O campo da Portuguesa situado no km 19 da rodovia Régis Bitencourt se tornou conhecido e frequentado pelas melhores equipes do nosso futebol varzeano.

 
 'Alma e vida da Portuguesa dos Oliveiras' o seo Paulo H. Portmann cuidava do campo, arrumava os jogos, preparava os uniformes, cobrava os recibos dos atletas, e escalava o time.

E, depois da partida, na vitória ou derrota, pagava lanche, cerveja e refrigerante.

Recolhido o material, saco de camisa às costas seguia o caminho de casa já pensando na preparação da semana seguinte.

Esportista e munícipe prestigiado, um dos fundadores da Liga Taboanense de Futebol, em 1964, foi seu presidente em 4 oportunidades. 
 
Tendo por ideal montar uma estrutura que pudesse atender a comunidade nas mais diversas categorias que o futebol seduz, o seo Paulo, sempre disciplinador, não hesitou em suspender 8 jogadores do time principal.

O motivo? Na época a coisa era séria. É que eles jogaram pela AA Embuense contra os aspirantes da Portuguesa dos Oliveiras, numa partida amistosa, num domingo à tarde.

Além do castigo, conta a história publicada no jornal O Cidadão, de 30/11/1989, é que o expressinho luso venceu por 2 a 1.

Paulo H. Portmann esteve à frente da Portuguesa até 1975.

E se amargou o dissabor daquela derrota em 1950, do Brasil perdendo a Copa do Mundo pro Uruguai...

Em compensação vibrou com a seleção canarinho nas campanhas de 58, 62 e 70, vestindo a faixa de tricampeão...

 
Numa época em que a várzea era considerada um celeiro de craques, tal a profusão de pelézinhos e garrinchinhas que surgiam nos campos de terra batida. 
 
E, ainda de quebra, pra satisfação pessoal, viu sua Alemanha, em tv colorida, bater o carrossel holandês e ser campeã mundial de 1974. 

Deixou um legado, uma contribuição enorme, e fez de seu filho o sucessor no comando daquela mútua paixão.

Digo: só quem vive sabe o que é!
 
Paulo Adolpho Portmann, o Paulinho, que nesta foto de 1990, aparece em pé.

Zagueirão, no mínimo, o primeiro à esquerda.

Paulinho tomou para si a incumbência de presidir a Portuguesa dos Oliveiras em 1976, e manteve a pegada paterna.

Em sua gestão, além das equipes principais - esporte e veteranos - a escolinha de futebol deu nova feição ao clube.

E comemorou o aniversário de 30 anos com estilo. Na ocasião, o prefeito de Taboão da Serra, Armando Andrade, jogou pelo time da prefeitura.

Paulinho é primeiro à direita, agachado.

E nem ele, e nem nós imaginávamos que o Brasil ia ser tetracampeão em 1994, nos Estados Unidos, na cobrança de penais depois de um empate de 0 a 0.

A Portuguesa dos Oliveiras, na virada do milênio, completando 50 anos de existência.

Dois anos depois, em 2002, o Brasil, com um time de jogadores que atuavam na Europa, faturou a 17ª Copa do Mundo, na sede Japão/Coréia do Sul, ao bater a Alemanha no jogo final por 2 a 0.

Ronaldo Fenômeno fez os dois gols e foi o artilheiro da competição com 8 tentos.

O jornal é de 1989, mas a foto é de 1960, em comemoração aos 39 anos de Portuguesa dos Oliveiras. 

Quem seria a senhorita, vestida na maior discrição, segurando a taça contra o seio palpitante?

E os anos de paixão e glórias iniciaram declínio quando a família Basile pediu a reintegração de posse do terreno/campo, em 2003.

Concedida a liminar aos autores, a Portuguesa dos Oliveiras teve que abandonar o espaço.

E mesmo após o despejo do campo, que por mais de 50 anos serviu para lazer e aprendizado de ampla comunidade...

Paulinho e um grupo de pessoas mantiveram a Portuguesa dos Oliveiras em atividade no campo do Embú/Itatuba...

'Uma das maiores injustiças que já presenciei', diz o Mauro, ex-jogador luso.
 
E, talvez, por força dessa história varzeana, após o falecimento do Paulinho Portmann, em 2013...

Alguns abnegados como Jeremias, Marquinhos, Aristides, Wanderley, Paulo Dassa, e outros, mantém a bola rubro-verde rolando...

Dando continuidade ao time mais antigo de Taboão da Serra, ainda que distante de seu local de origem. 

'Sabes, no fundo eu sou um sentimental. Todos nós herdamos do sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo...'

E é duro ver o campo da Portuguesa dos Oliveiras, que contribuiu para vivência de tanta gente, completando 64 anos de fundação...

Abandonado por questões judiciais não resolvidas, ao invés de pessoas, agora exercita bichos do mato. 

2014. A Copa do Mundo volta a ser editada no Brasil. É a geração Neymar. Felipão no comando. 

64 anos após, aquela euforia contagiante pelo futebol canarinho também já não existe.