sábado, 1 de agosto de 2009

Mohamad ou Jean François

Começa o ano letivo. O pequeno Mohamad, fruto de intenso amor ideológico no médio oriente, está na sala de aula de uma escola no subúrbio de Paris.

Os alunos, um por vez, se apresentam. Mohamad se pronuncia e a professora em tom maternal, diz:

- A terra santa agora é outra. Para evitar aborrecimentos vamos chamá-lo de Jean-François. Repita comigo, Jean François, Jean François...!

E Mohamad, digo Jean François, soletrou as primeiras letras e regras do novo alfabeto. E cantou e brincou e comeu merenda e voltou pra casa a pé. O frio entardecer acompanhou seu retorno.

Leite com sucrilhos na mesa da cozinha, se aproxima a mãe:

- Meu pequeno Mohamad, que Alá proteja o cedo recomeço. Me conta, como foi seu dia?

- Un, deaux, trois, meu nome não é Mohamad, é Jean François...

- Que gracinha, Mohamad, aprendeu a contar ?

- Un, deaux, trois, meu nome não é Mohamad, é Jean François...

- Mohamad, seu nome é sagrado. Não pode ser mudado.

- Estamos na França, mamãe. Un, deaux, trois, meu nome não é Mohamad, é Jean François...

- Deixe de tolice. O nome é a herança de nosso país. Mohamad, você não pode ter vergonha de nossa pátria. Estamos aqui a trabalho, logo voltaremos ao convívio protetor de Alá...

- Um, deaux, trois, meu não é Mohamad, é Jean François...

- Pare com isso! - Gritou furiosa, a mãe, pegando o menino pela orelha.

O pai, a que tudo ouvia na sala contígua, o chama atenção:

- Mohamad, venha aqui! Fique de joelhos e peça perdão a sua mãe. Antes, diga qual o seu nome?

- Era Mohamad, virou Jean François, e agora já nem sei...

- Insolente! Umas boas palmadas vão te ensinar a ser quem você é...

No outro dia, na aula, a professora faz a chamada:

- Jean François, Jean François?

Mohamad permanece calado.

- Jean François, por que não responde?

- Me desculpe professora, mas só vou me tornar francês se a senhora mandar prender aqueles dois terroristas árabes que estão lá em casa...

Midraxe Hagadá - Marco Pezão


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