Os alunos, um por vez, se apresentam. Mohamad se pronuncia e a professora em tom maternal, diz:
- A terra santa agora é outra. Para evitar aborrecimentos vamos chamá-lo de Jean-François. Repita comigo, Jean François, Jean François...!
E Mohamad, digo Jean François, soletrou as primeiras letras e regras do novo alfabeto. E cantou e brincou e comeu merenda e voltou pra casa a pé. O frio entardecer acompanhou seu retorno.
Leite com sucrilhos na mesa da cozinha, se aproxima a mãe:
- Meu pequeno Mohamad, que Alá proteja o cedo recomeço. Me conta, como foi seu dia?
- Un, deaux, trois, meu nome não é Mohamad, é Jean François...
- Que gracinha, Mohamad, aprendeu a contar ?
- Un, deaux, trois, meu nome não é Mohamad, é Jean François...
- Mohamad, seu nome é sagrado. Não pode ser mudado.
- Estamos na França, mamãe. Un, deaux, trois, meu nome não é Mohamad, é Jean François...
- Deixe de tolice. O nome é a herança de nosso país. Mohamad, você não pode ter vergonha de nossa pátria. Estamos aqui a trabalho, logo voltaremos ao convívio protetor de Alá...
- Um, deaux, trois, meu não é Mohamad, é Jean François...
- Pare com isso! - Gritou furiosa, a mãe, pegando o menino pela orelha.
O pai, a que tudo ouvia na sala contígua, o chama atenção:
- Mohamad, venha aqui! Fique de joelhos e peça perdão a sua mãe. Antes, diga qual o seu nome?
- Era Mohamad, virou Jean François, e agora já nem sei...
- Insolente! Umas boas palmadas vão te ensinar a ser quem você é...
No outro dia, na aula, a professora faz a chamada:
- Jean François, Jean François?
Mohamad permanece calado.
- Jean François, por que não responde?
- Me desculpe professora, mas só vou me tornar francês se a senhora mandar prender aqueles dois terroristas árabes que estão lá em casa...
Midraxe Hagadá - Marco Pezão
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