quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Devido respeito

O cara dono da loja de carros usados é folgado
Nem aí pro pedestre estaciona seu veículo na calçada
E tome nois bípedes desviá pro asfalto
Estrada do Campo Limpo fervendo de trânsito
Ônibus passando rente

O desrespeito pelo outrem
Se aprofunda a mileanos
Em falar umas dá vontade
Mais velho, porém, o melhor
É deixar pra lá
Tantas vezes praticada essa ação
Que a reflexão cutuca
Cansado de engolir sapo e rotar rã?

Desabafe! Escreva um poema
Apesar dos pesares. O pesar caos
Assombrando a humanidade
O pesar dos delitos políticos acharcando os brasileiros
Ao ano que passou tiro a conclusão
Guardo os bons momentos
Pois, os maus, já remoídos
Fazem parte do meu calo do dia

Então, família, meus amigos da várzea e do facebook,
Dos saraus de poesias
Rio de águas prazerosas, me confesso
Ao término de 2016, apaixonado
E essa paixão é fruto do estar presente
No compartilhamento
O mundo à minha frente
Bonito como seios de mulher amada
Somado carinho
Ergo o copo e ao corpo um brinde
Ao desejo mútuo
2017
Bebo em nome do merecido
O merecido respeito!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Circulando

Marrom avermelhado, o cachorro
De orelhas arqueadas
Já adulto
Deitado ao lado de outro mais jovem
Na pista de skate
Que há na Praça do Campo Limpo

Eu troto no círculo cimentado
Defronte a eles
E quando me apercebo
O cão passa por mim
Me olha e segue

Sob a árvore caga
Se afasta, e com as patas traseiras
Intenciona cobrir as fezes com a terra do chão

Depois, caminha até um mato crescido
Arqueia a traseira
E limpa o cu no capim

- Vadio, mas asseado, pensei

De rabo empinado
E nem aí pra vizinhança
O dog torna à preguiça

Eu troto em círculo
Enquanto o mundo gira à minha volta

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

O Boi voou pelas ruas do Marabá

Sábado, 10, a Casa de Cultura Candearte promoveu o XII Cortejo do Boi Mimoso...

,,, e contou com a participação do Grupo Maracatu Ouro de Congo, Campo Limpo...

... e Congada Flor de Liz, do M Boi Mirim.

Feijoada servida no maior carinho. Confraternização e muita alegria marcaram o encontro

Ah, homens da Cultura de Taboão, esse sabor que emociona e me arrepia não conhecereis nunca...

A chuva caiu no maior aguaceiro

Mas, pela graça divina, já anoitecendo, o tempo estiou e o Boi partiu pelas ruas do Marabá.

Tem gente que vai à igreja. Outras gostam de futebol. De ver TV, e assim vai...

Ainda, há aqueles que têm pela arte popular o maior apreço.

Cientes de sua importância no contexto social.

E é com essa gente que eu me enquadro e me arredondo.

O importante é que apesar das dificuldades o Boi voou por asas próprias e espalhou todo seu axe pelas ruas do bairro.

Mestre Magela e todos os integrantes e participantes do Grupo Candearte, valeu!

O acaso é amigo da poesia. A persistência sua aliada.

Fica o registro do momento.

Instantes que transformam dúvidas em convencimento.

Amor vem pelo amor...

Fotos do entusiasmo estampado no estandarte...

... em nossos rostos e corações.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

É hora do boi no Marabá!

Mestre Magela comanda o Boi de Reis pelas ruas do Pq Marabá

por Alai Diniz

Na periferia ainda há cheiro de mato; xote e xaxado e gente que chega da catingueira... Esse pessoal valente que vem com a mão na frente outra atrás e que, um dia, antes de subir no pau-de-arara... 

(Muita atenção!) Vale aqui um breque: Pau-de-arara, antes de virar nome de tortura na época da ditadura (rimou!) foi, em primeiro lugar, a viagem de pau-de-arara, que, de fato, era uma violência pra quem vinha do Nordeste,  dependurado na traseira do caminhão, depois de uma decisão que impressionava quem quisesse escutar: 

“Ó xente, vou-me embora pra São Paulo”!

Verdadeiro Eldorado na fantasia desses “cabras, calangos, ou negos doidos”. Como disse Rachel de Queirós: 

“São Paulo, terra do dinheiro, do café, cheeeeeia de marinheiro.”

Taboão da Serra não foge à regra com tantos relatos de seus migrantes e por isso está na hora de você conferir a riqueza do ritmo, da voz e da dança do Grupo Candearte. 

Como é que pode, o poder público não ter ainda se tocado de propor um edital para incentivar essas práticas culturais que tem na convivência e na proposta comunitária sua grande finalidade?

Não se vende o canto, a dança, a alegria, apenas se propõe compartilhá-las!  Uma arte que só deseja encantar com a cantoria que incendeia o Parque Marabá todos os meses com sua tradicional Cocada.

E, neste sábado, dia 10 de dezembro, na Casa de Cultura Candearte, a partir das 13 horas, celebra-se o 12º Cortejo do Bumba meu Boi, ou Boi de Reis, percorrendo as ruas do Marabá. 

O evento contará com a participação dos Grupos de Maracatu Ouro do Congo e a Congada do Flor de Lis. 

E como manda a boa tradição, será oferecida uma feijoada a todos os participantes do folguedo.

Diferentemente do que ocorre nas touradas em diversos países de tradição ibérica, esse cortejo que cultua o boi, não o agride, nem o violenta, é arte em renovação.  

Venha praticar a folia!

É sábado, às 13h, na Casa de Cultura Candearte.

Ao lado do Centro de Convivência Marabá Novo.

Fotos: Marco Pezão

sábado, 3 de dezembro de 2016

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Um suburbano em Boiçucanga

Fomos convidados para participar do Sarau Suburbano Convicto, completando um ano de atividades, em Boiçucanga, São Sebastião, e que marca uma nova fase na vida do escritor e cineasta Alessandro Buzo.

O encontro comandado pelo amigo Buzo segue a linha do seu tradicional Suburbano Convicto, apresentado semanalmente às terças-feiras, 19h, no Bixiga, há 7 anos. 

Agora, na baixada, o sarau acontece toda primeira segunda-feira do mês.

Partimos da Lapa, eu e Otília, na companhia do poeta Paulo D’Auria e Cissa Lourenço, levando nossos livros e poesias para divulgar no festival programado.

Assim, dia 7 de novembro, estivemos no Bar Cartola compartilhando a harmonia ali existente. Lotado. 

Em se tratando de pegar, pegou. É o rastilho da pólvora. 

Ao menos 30 pessoas deram vozes a poemas, raps e canções.

Ao lado do Buzo, Toni e Chantelee, do Listras Negras, bateria e guitarra, criando acordes. 

O microfone aberto reúne e une. Durante duas horas saboreamos convivência e diversidade.

E, entre elas, poder ouvir a Ariela declamar ‘Embriague-se’, de Baudelaire, e outros clássicos, com tamanha sapiência, foi um arraso.

Sarauê!

Não há palavras para tantas imagens colhidas e registradas durante os três belos dias em que lá permanecemos. 

Solzão a reinar. Nada de chuva. 

Somente uma imensidão, que aos olhos de quem mora entre muros no Campo Limpo é desconcertante.

O baguio é louco. Diante do mar me lembrei de um amigo que ao chegar pela primeira vez numa praia, exclamou: 

- Que puta lagoa!

E eu fiquei cabreiro quando na segunda-feira o Toni preparou o passeio para conhecermos as ilhas que ficam alguns quilômetros mar adentro. 

- Vamos de bote? Vige!

E fui para um deleite nunca antes experimentado. O mar é verde como teus olhos, diria o poeta.

O timoneiro Toni é repleto em conhecimentos e o passeio foi uma aula. Cada ilha seu detalhe, história. 

Aportamos numa. E, então, cercado de água por todos os lados, caminhando entre rochas, a salvação.

No meio das árvores, o oásis. Uma barraca. Isopor e cerveja. Peixe pescado fresquinho...

- Que venha uma porção de tudo!

- Mano, você vive aqui?

- Vivo na ilha, e vivo da ilha...

Poetou, fudeu!

A bordo do bote 4x4, possante cavalo a cavalgar as águas de Netuno, e eu me sentindo um potro selvagem a te imaginar nua na areia prateada.

Viajei na onda. Me banhei e bebi. Me inundei ao sabor da poesia. 

Disse pro Toni:

- Quando, em sampa, eu estiver estressado. Venho buscar essa recordação.

Ainda, agora, revendo as fotografias enviadas pelo Paulo, a Sissa, o Buzo e a Marilda, percebo que o mês já se passou.

E do lado inverso do poema, o cotidiano é um batedor de massa. 

Donald Trump se tronou presidente, Fidel Castro morreu, o avião da Chapecoense caiu... 

...e para alegria nossa, o Palmeiras é campeão brasileiro.

E meio a tantas (in) diferenças e fatos tragicômicos da nossa política, estamos numa ansiedade danada por conta do projeto... 

‘Do Campo Limpo ao Sintético, Poesia Sem Miséria’, classificado no edital do Fomento da Periferia.

Joguei bola no campinho da casa do Buzo. Ficamos na pousada do Ricardo, um encanto. 

Compartilhamos momentos que me são inesquecíveis. 

E, a Oxalá, que reina acima da terra e do mar, somente a agradecer:

Alessandro Buzo, Marilda, Evandro, Paulo D’Áuria, Cissa Lourenço, Toni, Celia, Ariela, Chantelee, Otilia...

Um beijo no coração de cada um.

Nóis é bote e atravessa qualquer mar!

Do amigo, Marco Pezão


quarta-feira, 23 de novembro de 2016

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Candearte: amor e resistência

Nem tudo é mal ou bem. Vai se vivendo. Contornando. 

Mas quando o tempo de convivência apresenta desgaste na relação amorosa entre marido e mulher, é barra. 

Osvaldo já se habituara a uma certa rotina. 

Todo sábado fica sozinho em casa. E essa situação o incomoda. 

Dona Lucélia, invariavelmente, passa os fins de semana com a filha e o neto.

Na tela do computador visita páginas de mulheres nuas. 

66 anos. 30 de casado. Aposentado. A solidão o atormenta. Bebeu da cerveja.

- Essa é a real. E nada posso fazer para mudar. 

Tivemos bons momentos no casamento. Mas, acabou. E eu me sinto passado.

Assim pensando olhou entre as pernas e suspirou. 

Entristecido retornou à sua página no face book e se deparou com uma matéria ali compartilhada:

Cocada com Sarapatel é no Candearte!

Começou a ler e um estranho interesse sentiu. Dança do Coco?

A labuta diária nunca lhe permitiu alguma distração além do trabalho.

Novo gole entusiasmou seu pensamento:

- A Casa de Cultura Candearte fica perto, no Pq Marabá... participação dos grupos Ganzarandá e Candogueiros, do Campo Limpo. 

Uma reflexão ao Dia da Consciência Negra...

Olhava as fotos. Não conhecia ninguém. 

Mas viu pessoas de várias idades cantando, dançando, rindo.

O tempo na rua estava chuvoso, nada animador. 

Mas ficar em casa vendo tv ou mulher pelada é o nó. Não aguentava mais.

Foi pro banho e por volta das 20hs se dirigiu ao espaço Candearte. 

Da esquina ouviu a cantoria e se aproximou. Seja bem-vindo foi logo recebido.

E o Osvaldo movido pelo entusiasmo presente, sentiu-se à vontade. 

Em meio à roda, as mãos embalaram palmas e o comichão tocou os pés...

- É pra frente e pra trás, rapaz! Bate o pé, balança, e volteia no mesmo passo.

Iluminada mente. Osvaldo cantando, rindo, dançando. 

Fazendo par com as pessoas. Sentiu-se livre, leve, solto.

O sarapatel tava uma delícia. Arriscou uma cachacinha. 

Pedreiro, mestre de obra que era, tudo construía e reformava em sua cabeça.

Olhou a sede com outros olhos. Penetrou na alvenaria. Sua simplicidade. 

As marcas do reboco. O teto. O piso. As portas. 

Uma cobertura no quintal passou diante dos seus olhos.

As dificuldades estampadas, lidas nas paredes. 

E a grandiosidade a cantar, a bailar. 

Energia, arte, acolhimento. 

Assim embalado, num instante supremo, percebeu que é possível mudar os rumos das coisas.

A compreensão é magia. 

E em tamanho cresceu o Osvaldo quando olhos belos de uma senhora lhe pousaram nos seus.

A palpitação daí em diante marcou o compasso. 

As palavras trocadas. Um desejo crescente. 

O beijo no rosto e o perfume da despedida.

Tornaram-se amigos no face book. Mais que isso. 

A troca de mensagens revela um romance a ser escrito.

Ela é de um bairro distante, dificultando a paquera. 

Mas um próximo encontro está marcado para o sábado 10 de dezembro...

...quando o Grupo Candearte irá promover a folia Boi de Reis.

As fotos são da 28ª Cocada do Grupo Candearte, que aconteceu no sábado 12 de novembro.

Participaram da fotonovela o elenco do Candearte e convidados:

Geraldo Magela, Maria Clara, Ingrid Sena, Pedro Lucas, Táta...

Dara Cristina, Pedro Aquino, Genini, Luana Piveta...

Melissa, Bruno Uberê, Alai Diniz, e Renato Macedo.

Em Taboão da Serra, Grupo Candearte é amor e resistência!