domingo, 19 de agosto de 2018

Daniel Diez é rara joia que Taboão não aquilata!

I LOVE LAJE NO FOMENTO À CULTURA DA PERIFERIA

Corria o ano de 1964 quando o jovem ator Daniel Ernesto Mendoza Diez chegava à São Paulo, saído do vizinho Peru, numa época em que as ditaduras militares calavam a liberdade na América Latina.

Atuante, Daniel Diez estudou com o professor e diretor de teatro ucraniano, o considerado Eugenio Kusnet. 

No dia 11 de setembro de 1965 estreou como ator na peça Morte e Vida Severina, com músicas de Chico Buarque  e sob direção de Silnei Siqueira e Roberto Freire, no Teatro Universitário da PUC (TUCA), que concentrava uma nova geração de atores, diretores e artistas de primeira linha no cenário brasileiro.  

Quem casa, casa quer. Ao se casar com Vera, companheira que se tornou atriz, Daniel compra um terreno na Vila Pazzini, Taboão da Serra, e, trabalhando como ambulante durante a semana, pôs mãos à obra em dois sonhos. 

A moradia para a família de 4 filhos e o TESOL - Teatro de Expressão Sol - seu espaço cultural construído com esforço e carinho mútuo...

sem qualquer auxílio público, por saber que o valor da arte é torná-la acessível ao talento dos jovens e à comunidade, reunindo ali lazer, encontro e aprendizagem.

Aos 83 anos, Daniel Diez, uma lenda viva, se mantém na ativa. 

Entre várias montagens, reencenou como diretor a peça Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto. 

Além disso, sonhador e ousado, Daniel Diez fez no tablado o papel  que representa na vida, Dom Quixote de la Mancha. 

Com "Navio Negreiro", de Castro Alves, percorreu escolas da periferia, mostrando sua verve como declamador e mestre da cultura.

O convite para a apresentação de 'Poesia na Carne', cenas breves que criamos no ECC I Love Laje, tendo como base o Teatro Jornal 
de Augusto Boal...

partiu de um grupo de atores taboanenses que, em solidariedade, frente às dificuldades financeiras para manter as atividades no Espaço TESOL, programaram um festival de teatro em apoio à causa: 

Verdadeira Resistência Cultural, que Vera e Daniel se ocupam com tamanho fervor.

Templo de arte, o TESOL é uma construção com altura de 5 metros, cortinas pretas, coxia e camarim. Arejada e aconchegante. 

Vivo em Campo Limpo/Taboão desde 1968, e desconheço, além do Teatro Clariô, essa é uma outra bravata que há muito devia ser reconhecida...

e do Candearte, batalha árdua do mestre Geraldo Magela, um outro espaço que se possa praticar a convivência cultural. 

Quem joga futebol quer campo, quem faz arte necessita de ágora. Não valorizar o TESOL é desperdício. 

Domingo, 5 de agosto, às 18h, nós e sete expectadores, reunidos, tivemos nosso paladar acrescentado pela iguaria do saber e do fazer.

A formação de público e de novos protagonistas necessita de estímulo. É um trabalho coletivo que deve ser ancorado pela Secretaria Municipal de Cultura. 

Sem uma aposentadoria que lhe permita maior dignidade, Daniel Diez não esmorece. 

Declamando poemas de Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, corpo e mente bailam ao som das palavras sentidas, vividas.

Em retribuição a nossa visita, na sexta-feira, 17, no Help Hour da livraria POESIA FC foi a vez de Daniel e Vera mostrarem que também desejam como nós romper o isolamento e a competitividade para criar uma cultura solidária na periferia.

Assim como o TESOL, no Espaço de Convivência Cultural I Love Laje, sabemos o que é tirar água do poço e deitar barranco para termos um espaço onde possamos praticar a cultura, incentivando a leitura, a literatura, a oralidade, a poesia escrita e falada, a arte como expressão livre em ideias e ideais. 

A fisioterapeuta Emília ia passando em frente à livraria e entrou ao ouvir os declamos. Melhor impossível. Deu voz a um poema e fez parte da magia.

Jefferson Tubarão, do Coletivo I Love Laje, com Daniel Diez. Um encontro como esse nos renova.

Somos poucos, porém muitos. Pelejamos contra a maré fortalecidos pela ação, na luta por oportunidades iguais a todos. 

Somos frutos dos saraus. Esse movimento que teve início em 2001, no bar Garajão, em Taboão da Serra, quando os poetas Sergio Vaz e Marco Pezão criaram o Sarau da Cooperifa.

De mudança para o Bar do Zé Batidão, em 2004, essa ferramenta valiosa se espalhou pela periferia paulistana, servindo de modelo à instituições como o SESC, e outras tantas que passaram a utilizar saraus em suas programações...

Mas, em Taboão, nunca houve a menor valorização. 

Diferente do TESOL, na outra margem do Rio Pirajuçara, aqui fomos contemplados com o edital Lei do Fomento à Cultura da Periferia, que ajudou na criação do Espaço, na elaboração de um livro, saraus, um documentário, clube de leitura, além de oficina de teatro, e a encenação de uma peça... 

Sabendo também que doravante é como antes, sempre o nóis por nóis mesmos para seguir adiante...

Poesia é arte de quem não tem idade. Vera Diez tem muito a ensinar...

Daniel Diez, em nós a satisfação de poder recebê-lo, revê-lo, e o que é mais grandioso: te ouvir em cena. 

E, pra finalizar, do I Love Laje fica a premissa: 

Que um raio parta a cabeça daqueles que detém o poder, clareando a obscura consciência em meio à cerebral massa cinzenta.

Cada um é todo mundo!

Texto: Marco Pezão e Alai Diniz

Fotos: Marco Pezão, Alai Diniz e Jefferson Tubarão

DO CAMPO LIMPO AO SINTÉTICO

POESIA SEM MISÉRIA

A VÁRZEA É ARTE

A VÁRZEA É VIDA

PARTICIPE!

Esse projeto foi contemplado pela 1ª edição do Programa de Fomento à Cultura da Periferia da cidade de São Paulo


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