I LOVE LAJE NO FOMENTO À CULTURA DA PERIFERIA
Mãos ao alto não é assalto e sim um modo de assistir ao final do campeonato dos Veteranos em pé e do lado de fora da grade. Só mesmo por um bom motivo...
E quem está aí na foto tenta aproveitar a sombra de uma das poucas árvores frondosas que restam ao Jardim Rosana...
De outro modo, no outro extremo do campo, alheios ao mundo dos adultos, as crianças brincam, na maior camaradagem, com um dos brinquedos mais antigos da infância...
Essa matéria natural e porosa que é a terra misturada à areia, capaz de exercitar a coordenação motora ao reunir e ao espalhar com as mãozinhas esses resíduos no improvisado parque... As mãos tentando catar a terra, o solo que protege o pé...
Pedro está com o papai César que mostra satisfação em estar ao lado desse reizinho com cara de Pequeno Príncipe. Pedro também brinca no CDC...
E não me venham falar que é anti-higiênico brincar com terra!...Esse é o brinquedo coletivo que há...Esse é o parque possível!
Aliás, Leandro, o pai e Luan, o filho, agradecem a alegria do domingo no único parque existente nas imediações do Jd Rosana!
O CDC desenha uma clareira no concreto dos blocos emboscados no morro. Daí ser uma resistência na periferia e um direito a algo mais na vida desses pais, filhos, mães, avós ou pessoas sós...
Enquanto rola o jogo, seu Carlos me conta, na arquibancada do Rosana, porque é revoltado com sua tragédia pessoal.
Aos 16 anos, se viu debaixo de um trem. Esse momento que ele repassa ao largo, no campo da vida, parece sempre ter cartas marcadas.
Diferentemente de processos judiciais decididos num piscar de olhos, quando interessa à cúpula do poder, o processo de seu Carlos, torcedor do timão, cozinha há 31 anos:
- É! E eu vou morrer sem receber a indenização!
Sem miséria é o navio em que embarca o poeta antes do jogo. Do alto da proa e de olho no futuro, Marco Iadocicco, o repórter número 1 da várzea da zona sul, estende a faixa que marca o início da filmagem do documentário homônimo, uma das propostas do projeto contemplado pela Lei de Fomento à Cultura da Periferia da SM da Cultura de São Paulo...
"Quem espera nunca alcança... por isso diz ele "Quem sabe faz!"
No alto da Av. Carlos Lacerda muitas mãos à grade . Olhares atentos acompanham o jogo lá embaixo, enquanto passa na calçada uma mulher.
Cena corriqueira diante do espetáculo final na Copa CDC Jd Rosana de Jardim Rosana entre Nova Era e Aliados Fortes.
Há quem passe e há as mulheres que também se sentam na arquibancada pra torcer...
Outras como Eliane trabalham duro na fritura de seus acarajés ao lado do campo.
O que faz aprendeu na Bahia, aqui sua vida é o trabalho de domingo a segunda, em dois empregos diferentes, mas que o quê!
Não desiste essa Dona Eliane. A mensagem que envia às outras mulheres é o de por, além de condimento que vem direto da terrinha, muito carinho naquilo que faz... Dedicação!
Se na foto vê-se apenas um braço no ato de pilotar um fogão, Eliane mostrou no papo o potencial que tem para gerir seu negócio familiar com o marido e filhos.
Todos ajudam, mas quem toca é esse desejo de oferecer o que de melhor aprendeu a fazer na vida.
E são as mulheres que batalham no dia-a-dia como Melanie, Eliane do acarajé, Edineide do bombom e tantas outras, anônimas que precisam ser ouvidas, atendidas e, principalmente, respeitadas no bairro e no lar.
Confira o que Edineide nos diz:
Além de parir, criar vida com nossos companheiros, cuidar da prole em igualdade e com respeito, temos direito ao lazer com a família, amigas.
E um dia experimentar também escancarar a porta de casa pra ler o mundo, como cidadã, em busca de seu legado na vida, direito de cada ser humano ...
E pra concluir, à minha mente ecoa o nome da uruguaia Martina Piazza Conde, estudante da UNILA que, em 2014, virou um número a mais na estatística de feminicídio nesse mar de estupros que corre o Brasil.
O quinto em violência contra a mulher! Convido-as a que a conheçam ao lado do pixo no muro que traduzo agora:
"Mulher bonita é a que luta!"
Reportagem: Alai Diniz e Marco Pezão
Fotos: Alai Diniz
Obs: Grata às mulheres pelas entrevistas e desculpas por descartar um vídeo sem condições mínimas de qualidade.
DO CAMPO LIMPO AO SINTÉTICO
POESIA SEM MISÉRIA
A VÁRZEA É ARTE
A VÁRZEA É VIDA
PARTICIPE!
Esse projeto foi contemplado pela 1ª edição do Programa de Fomento à Cultura da Periferia da cidade de São Paulo
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