Há uma alegria que teima. Ela é rude, não falsa. Contentamento de criança gula de doce. Bola, humor daquela tarde. Passada terça-feira de carnaval.
Mituzi cenografia vazia desfila verdes fardas. Retrato BinCopo. O carnaval na avenida Fernando Fernandes, nada. O povo nada.
Existe uma alegria que teima aparência triste. Ela é rude e não falsa. Chapada do morro acobertada pelo cimento. Mirante onde respirei fundo.
Águas passageiras. Via no lugar do córrego. A lagoa no lugar do campo. O campo no lugar do colégio.
Enxergo, através das construções, festival do EC Jd Roberto. Martinica e Rebouças, da Vila Sonia. À época, maior respeito.
Vindo da Vila Sonia pro Campo Limpo, deixei o Rebouças e fui jogar no Martinica por volta de 1972.
Me vejo naquele confronto. O gol do Neguita, no segundo tempo, matando o goleiro Gão. Pega fudido. O campo rodeado de gente. De um lado, novos amigos. De outro, não mais companheiros.
Graças ao empenho na marcação ouvi bronca do adversário amigo Lucindo, pra mim Pelézinho. Alvi Verde de minha infância, do meu pai João. Foram repreensivas palavras:
“Mudou pro Campo Limpo e virou bicho, Pezão?”
Existe uma alegria que teima. Ela é rude, não falsa. E a percebo nas pernas da bola, agora. Andanças refletidas em rostos famintos de gente.
Clicando rindo momentos, gerações. Marrom, deselegantemente travestida, dá o tom no meio-campo, antes de iniciada partida:
“Colaboração. Todo mundo tem que colaborar. Nossa casa sempre foi cheia de família. Aí, tá vazio! A gente tem que se manter em pé. A tradição tem que continuar”.
A energia brilhou em jogo de máscaras e fantasias. Se tão poucos humildemente fazem tanto, imagino tantos outros. Saias e calções roçando. Gozo gol da Ulisses, viúva, 1 a 0.
Em resposta, os Machões interagem. Robson e Alex assumem 2 a 1.
As Viúvas em número diminuto parecia combalida. A lida, porém, se mostra outra.
Ofegantes mamilos. André, André, descolado conjuntinho, inverteu o placar e estendeu-se ao chão como num último suspiro.
O bar do Gê está forrado de saudável intimidade, difícil de atingir. Sem recaídas, as solícitas virgens viúvas saboreiam vitória.
Marchinhas na máquina de som relembram antigos carnavais. Imagino confete e serpentina enquanto canto e recorto as ruas da noite. Mamãe eu quero. Mamãe eu quero. Mamãe eu quero mamar...
Há uma alegria que teima. Ela é rude e não falsa. Farta em bola, riscos, risos e amizades, nossa várzea.
E a artilheira, já de topeles, quase deixa os Machões de quatro...
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