Vital Lira, 44 anos, nascido e criado no Campo Limpo, taxista, ele dá o recado:
“Se a eleição do Barack Obama não te emocionou, é porque há algo errado com você.
A eleição do primeiro presidente afro descendente à frente do poder da maior potência mundial, dentro de uma política conservadora, só aumenta a certeza que somos todos iguais, independente da cor de nossa pele.
A presença de negros na televisão, na música, nas artes, nos esportes, na política, é a real. O dia 20, Dia da Consciência Negra, instituído em 9 de janeiro de 2003, lei nº 10639, serve pra referendar nossa liberdade, nosso orgulho.
O bom senso nos diz que vale a pena lutarmos por igualdade.Todos temos potencial para tornar nossos sonhos realidade. Basta acreditar e fazer que aconteça.”
Pedrão diz o que pensa:
“Onde eu trabalhava éramos 64 mestres, sendo que apenas 6 negros. Nunca senti o preconceito acentuado no exercício da minha profissão, embora, o velado, sim!
Historicamente falando, o homem negro é trabalhador. Deram a liberdade, mas não o meio de sobrevivência. Tiraram os grilhões, mas ainda ele ficou refém do senhorio.
O negro não tem de andar de cabeça baixa, se abater. Ele sabe da existência do racismo e deve correr atrás de oportunidades.
Para o negro tudo é mais difícil, mas não impossível. Deve ser respeitador, e todos o devem respeitar.
O dia 20 é para exaltarmos a consciência. Mas, por tudo que já vivi e aprendi, eu posso dizer: O Negro é lindo e o branco, também.”
Paulo Ferreira de Souza nasceu em 1928 e conta 81 anos. Vindo de Itabuna, Bahia, chegou ao Campo Limpo em 1970.
Marceneiro por profissão, é casado com dona Nair Ferreira Sena, da mesma idade, e contam 5 filhos: Sonia, Paulo, Luiz, Suely e Conceição.
O Paulo fala um pouco da sua experiência:
“Graças a minha profissão venci a vida, não posso reclamar. Nunca fui parar numa delegacia e nem tive problemas com ninguém. Gostei do Santos, do Pelé, mas sou corinthiano.
Na minha época tomei conta de São Paulo, gostava de dançar e curtia a noite nas boites. Minha mulher é uma santa.
E o que me deixa muito feliz é a amizade que eu tenho com meus filhos.
Discriminado fui uma vez, no clube da minha cidade, quando me pediram pra sair do salão com minha mulher, antes da gente se casar.”
Fã de Elza Soares, Martinho da Vila e Jorge Aragão, o samba e a cerveja são hábitos que dona Antonia, morena de olhos verdes, não deixa de curtir:
“Hoje tem baile de aniversário no clube dos funcionários do Hospital da Clinicas, e eu não vou perder. Sempre gostei de dançar, sempre fui muito espontânea.
Me casei com 28 anos de idade e o meu marido era ciumento. No ônibus, quando olhavam pra mim, ele já perguntava: Quem é, você conhece?
Foi um tempo bom. Estou feliz com que representa o dia 20. O povo negro sofreu muito e até hoje sofre discriminação.
Mas de mim só posso dizer que negros ou brancos, eu amo a todos. Todos me tratam bem.”
Frases:
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