domingo, 29 de julho de 2018

O que rola no extracampo do CDC Jardim Rosana

I LOVE LAJE NO FOMENTO À CULTURA DA PERIFERIA

Essa torcida observa um jogo no campo. Estão fora do centro do acontecimento. A partida é o principal, por isso, galera, essa imagem do público em pé na arquibancada pertence ao extracampo. 

Mas o que é o campo?

A palavra campo vem do latim e indica um lugar de batalha, ou de plantio...Além de outros sentidos. 

Em diferentes culturas, o jogo de bola foi-se tornando um tempo de festa. Um campo de jogo, nem bélico, nem agrário. 

Na arena que todos olham, dominam o lance três atores: o goleiro, o árbitro e o jogador. 

Como sabem o time "Nada a perder" perdeu para o invicto "Panela FC"que,  na disputa por pênaltis, sagrou-se campeão da 1ª Copa Lado Sul, conforme notícia dada no blog no dia 14 de junho de 2018. 

Entretanto, ainda há outras questões a ver nessa mesma imagem. 

No meio do campo, Marco Pezão, repórter fotográfico, empunha sua arma preferida e registra o fato instantaneamente. No lado oposto, tocando o alambrado, em primeiro plano, uma mão segura o aço... 

Um fragmento pelo todo - a metonímia infere alguém oculto a quem observa a imagem. Apenas uma aliança identifica o estado civil dessa pessoa...Homem ou mulher?

O que fica invisível está no extracampo. Vejamos agora, um plano fechado, não se vê o campo inteiro...

O goleiro se lança, pela malha da rede o detalhe do gramado sintético danificado. Isto pode  influir no resultado de um jogo, pois atrapalha a performance de qualquer goleiro.  

Mas isso não é o pior...Segundo estudos na Holanda, em 2016 houve cancelamento de 30 jogos de futebol amador, após a declaração do Professor Martin Van den Berg da Univ. de Ultrecht.

"-  Jogadores podem sofrer danos à sua saúde ao respirar e há riscos de que resíduos de borracha penetrem em seu organismo". 

Quando todos pensam que, na várzea, o terrão enlameado era o antigo e pior lugar pra se jogar, a tecnologia do gramado artificial no uso da borracha, nada garante. 

Resquícios de goma no corpo humano provocariam enfermidades. Mas essas preocupações que as federações tentam apurar em outros países nem se cogita por aqui...

Isadora, Maria Clara e M. Carolina só querem é se divertir...

A atenção fica voltada à partida. Mas fora dele outros seres vão experimentando novos desafios. 

Por exemplo, Matheus, de 14 meses,  filho de Jecilaine e Michel, segura firme expressando no olhar a força que faz para ficar suspenso na gangorra como se estivesse no ar. 

Mais descontraídas, as jovens sorriem, sem deixar de proteger as crianças. 

Menos preocupado com os demais, é o mesmo Matheus que agora dança ao som de uma melodia, encantando quem passa. 

É a família que se junta pra deixar uma marca de alegria em se reunir.

Aí estão, além das três meninas: Isadora, Maria Clara e Maria Carolina, Didi, Vanessa, Zane, Eurides e Victor. 

A garotada aí sofria pelo Panela FC. A alegria no extracampo tem a presença de uma menina.  

Lucas, Renan, Pietro, Breno, Gabriel, Yuri, Mateus curtiram enturmados com Raíssa. Sem essa de Clube do Bolinha, né?    

Porém, nem tudo é festa no extracampo. Nada invisível é Dona Francisca, catadora de latinhas que trabalha duro em dia de jogo. 

Aos 62 anos, enquanto o pessoal bebe, ela já passa recolhendo o ganha-pão e sua pose tem vigor num  ato que também beneficia o coletivo.

Willi, o peruano, também sexagenário, residente no Brasil há 8 anos, morador dali, informa outra característica  da periferia: a marca da migração latino-americana. 

Com sotaque castelhano, mas acostumado à tarefa de catar latas, Willi encontra no sol do extracampo um modo de se sentir parte do espaço no ato de limpar o ambiente.

Eis agora o corredor mais veloz do extracampo, Nicolas, de dois anos, um verdadeiro ás imitando quem corria no jogo. Ao embalo de Orfeu está indo para o merecido descanso. 

Assim, a mãe Roseana se senta com Reginaldo, o pai, e podem tomar fôlego no cuidado com o atleta precoce... 

Esse é um dos capítulos  de uma série que já conta com outros registros e vai formando um arquivo de como os Centros Desportivos Comunitários atuam, não apenas como campo, mas como uma cultura de vida na quebrada.  

  
Por fim, uma entusiasta da Arena Rosana, o depoimento vivo de Daiane sobre o que a motiva a ir ao CDC.  

Confiram! 

Reportagem, fotos e vídeo: Alai Diniz
Edição Final: Marco Pezão

DO CAMPO LIMPO AO SINTÉTICO

POESIA SEM MISÉRIA

A VÁRZEA É ARTE

A VÁRZEA É VIDA

PARTICIPE!

Esse projeto foi contemplado pela 1ª edição do Programa de Fomento à Cultura da Periferia da cidade de São Paulo