Tim, Valentim, Rogerio, Marcos, Jonathan e Marco Pezão, clicados pela Marinalva, no bar do Neto, se preparam pra pegar a estrada...
Um convite beira o balcão do Neto, Campo Limpo, sexta à noite, trouxe confirmação na segunda feira.
O Valentim, em negócios de leilão na Floripa capital, anunciou a viagem pra manhã de terça, 22.
Em termos de BR 116, meu conhecimento não ultrapassa entrada de Iguape.
O restante é novidade. Cruzar o estado do Paraná e chegar à Santa Catarina, nem pensar. Afigurava-se agora ocasião.
Fui, fomos! Dois carros e seis pessoas. No Audi, o Tim, o Marcão e mano Jonathan, dirigindo.
No comando da Parati, o Rogério. Valentim e Marco Pezão completam o time.
Se muito, depois de 50 km, é mato e morro. O agito da civilização vai ficando longe.
Cabeças olhos redor fixos. A minha, tanto aflita, percorre ao longo da rodovia.
O relógio apontava 10 horas, duas de rodagem, anuncia parada pro lanche.
O local, posto Graal. Em não estarmos na missão volante, eu e Valentim, santo grau.
Serra de Miracatu é apreensão. Cobra sinuosa rasga e escorrega pedra morro mato abaixo.
O arrepio se desfaz no Parque Federal de Jacupiranga, reserva de solidão profunda.
A paisagem abundante perde colorido verde em terra paranaense. Araucárias, pinheiros espetados.
O carro flui. Asfalto pra mais de metro. Em se perder de vista vamos à busca de um objetivo.
O leilão de sucatas da Companhia Elétrica de Santa Catarina é o agente da aventura, minha, porque os demais estão a trabalho.
Fazer retornar ao uso materiais recicláveis é a incumbência.
Comprar e vender é o princípio básico das relações humanas.
Eu foco. A conversa se alonga em silêncios. O cambiar da marcha, o freio.
O céu nublado nos acompanha. Intercalada e contínua chuva dispersa vapores nos giros pneumáticos.
Acelerados rumo ao almoço almejado às 15 horas em solo catarinense. Anchova grelhada é o prato concebido ao nosso desejo.
Curitiba. BR116 segue seu rumo. Velejamos na BR 101, e, além, prados e boiadas tomam espaço.
Miniaturas de bois, ó imensidão. Bananas, salames, queijos, vinhos, toalhas, e artigos de couro oferecidos demarcam retinias convidativas.
O percorrer beira mar nos aproxima. A Casa da Sereia nos atrai. Santa Catarina, castigada por intempéries do tempo, estamos!
Itapema, almoço, a mesa posta. O mar intenso. Um quadro. Ao longe, pequeno barco de pescador ancorado vaga. Cliques de satisfação. Eu e Valentim renovamos santo grau.
Deliciosamente comidos, comemos a distância. Dez horas após a saída deixamos para trás Blumenau e Camboriu.
Nuvens carregadas insistem. Enfim, a desativada ponte Hercílio Luz. Cruzamos o viaduto que liga o continente à ilha de Florianópolis.
No mirante paramos e avancei olhar à terra desconhecida que acrescentava milhares de pontos de luzes à noite estranha.
A marcha continuou pelo declive de nova serra.
O ar ganhou bom hálito quando batemos à pousada do João Correia.
O sabor sem miséria. Logo depois, bem alojados na beira do rio, acompanhados de bela gastronomia, comemoramos nossa chegada.
Intensa e breve estadia. No outro dia, o reconhecimento do material a ser comprado.
No caminho surge um boteco da antiga. Pastel delicia, cerveja, pinga com limão. A rapaziada tranqüila ficou de refri, mas o Valentim e o Pezão continuaram solidários com os copos, cheios, é claro.
Altos montes perfilam extensa área. Em descobrir a alma do cabo elétrico, tomei um choque. Olhos para quem quer ver.
De minha ignorância em não vê-lo, Brasil, dá um desconto. É convivendo que a gente aprende a conhecer as pessoas.
O deslumbramento natural. Canta o galo, campainha do celular do Valentim que não parava de tocar.
Os afazeres a serem conectados. Ligações, e-mails, os acertos pra espera do martelo aceleram.
Na correria brotou um sol meio tímido, mas suficiente pra aquecer a tarde.
Apressamos o almoço tendo a possibilidade de pegar uma praia. Mas, sem pressa, bolinhos de siri, camarões, filés de anchovas, merecem devida atenção.
Praia da Joaquina é o endereço. Areias mutantes recriam dunas. Embora o vento frio, atrevo. Ao mar lanço-me com alegria infantil.
Gaivotas planam. Um homem surfa no ar. Visão oceânica, o tudo, o todo, as ondas, os amigos.
Fazia-se mansa digestão, quando o inesperado refreou o deslumbre. O telefonema anunciou o adiamento do leilão.
Um machado que ceifa a árvore da possibilidade, a mensagem fez escorrer o satisfatório retorno do empreendimento.
Chocados e com fome, a razão de ali permanecermos não mais havia, no restaurante Extremo saboreamos a derradeira iguaria.
Por ironia, a saideira trouxe cachaça de má companhia. Solidários no protesto, Valentim e eu, não bebemos.
Ficou pra manhã seguinte, quinta feira, já perto do meio dia, quando de malas prontas e decididos a partir, referendamos meio litro de bento franciscano.
O sol se fazia pleno em meio ao cortante vento. O João Correia brindou a despedida com modas de viola. Viola de dez cordas, por ele construída com fino esmero.
Retorno, pradarias se ausentam. Mato, morro, o breu noturno, o asfalto molhado. Já é madrugada quando São Paulo se avizinha. Aos motoristas da empreitada ergamos nossa taça.
Taça repleta de pura cortesia: Rogério, Marcos, Jonathan e Tim.
Paladar traduz doce sal. Real impressão, Valentim e Pezão beberam Floripa num só gole...