Dos treinos no Itaquacetuba, no campo da Regional, quando voltavam, paravam pra tomar suco ou raspadinha de gelo no comércio que tínhamos na passagem. O Cláudio, o China, uma turma de jovens jogadores.
Daí reside minha primeira lembrança do Claudião. Depois, por força da profissão de repórter varzeano, nos encontramos e reafirmamos nossa amizade em tantas outras ocasiões, tendo sempre a bola como foco principal.
O planeta gira a uma velocidade infinita para que possamos ficar parados, a escolha de um movimento próprio. E o Claudião já trazia passagens por diversos clubes e o tempo que se espera para um jogador decolar é curto, principalmente no futebol brasileiro.
De vê-lo retornar a nossa várzea, teve uma hora que eu temi quanto ao futuro do Claudião, como jogador de futebol. De saber que a habilidade ou atributos nem sempre são levados em conta nessa intensa peneira. Quem segue ou não no profissionalismo, não importa o grau de sucesso, vai além da determinação.
Na época, fiquei sabendo por amigos que o Claudião tinha ido pra Indonésia. Torci pelo acerto, e os anos passaram sem que eu tivesse notícias dele. Soube, então, que a carreira ia bem através do finado Miltão, nosso cortador de cabelos.
Mas foi na Internet que o mundo, algo tão distante, se tornou próximo. E acessando o orkut, o Claudião chegou ao Futebolando. Essa é a ferramenta que eu uso pra estabelecer contato no continente asiático e contar o que esse moço conta, de sua chegada e adaptação:
“Eu tinha um amigo brasileiro que tava jogando no Arema Malang Indonésia. Ai o treinador pediu um zagueiro brasileiro, pra ele, que me ligou falando pra eu fazer o teste lá. Só que a passagem tinha de ser por minha conta. Falei que não tinha dinheiro, mas ia tentar arranjar.
O cara da agência e o meu amigo me ligavam todo dia, e eu sem arrumar nada. No último dia do prazo, eu e meu irmão fomos na oficina do Elcio, do Paraná Rod Raf, ver se ele podia me ajudar. Isso foi as 8 horas da manhã e eu tinha que mandar o dinheiro pra agência até o meio dia, senão já era mais esse sonho.
O Elcio falou - Eu não tenho esse dinheiro, mas você vai pra Indonésia fazer o teste – E ligou pra um amigo dele contando meu problema. Deus é mais, o Elcio conseguiu o dinheiro pra mim e às 11h30 eu paguei a agência e fui viajar no outro dia.
O falecido Miltão e o Heitor Banciela foram me levar no aeroporto internacional. Eu estava feliz da vida. O Miltão falou assim: “Esquece o Brasil, não vai dar mole lá!” Cheguei na Indonésia e o meu amigo me levou pra um hotel onde descansei dois dias. E então fui pro Arema fazer os testes.
Foram duas semanas de testes e o treinador chamou o meu amigo pra falar que não gostou de mim e que o Arema ia pra outra cidade. Mas o time reserva e os jogadores em teste iam jogar um campeonato curto, só que o treinador não ia acompanhar.
Me apeguei na esperança. Ele disse que se a torcida gostasse de mim nesses jogos, eu poderia ficar. Só que tinha mais 3 zagueiros fazendo testes.
Aí eu fui pro campeonato e joguei muito, mesmo. Todos do time reserva me dando apoio moral. O treinador foi ver a última partida da competição e nossa, Pezão, joguei muito naquele dia.
Terminou o jogo e o treinador me chamou, que tremedeira. Não vou esquecer nunca. Mas, graças a Deus, ele falou que eu ia assinar o contrato logo mais à noite. Fui pro hotel e chorei feito criança.
Ficava pensando, se eu não ficar nesse time, vou voltar pro Brasil, sem dinheiro e com dívida pra pagar. Ia ser foda pra mim. Mas Deus é fiel e me ajudou. Obrigado, Meu Deus!
Claudião vence as dificuldades e se firma no futebol da Indonésia
O período de adaptação me preocupou, o indonês é um idioma complicado e eu não falava inglês, né? Mas na Indonésia tem muitos brasileiros e no meu time tinha dois, aí ficou da hora. Hoje, depois de 5 anos trabalhando aqui, eu falo muito bem o indonês.
A cidade de Malang é maravilhosa. O povo é muito bom. A estrutura pra trabalhar é muito boa, com vários campos de treinamentos. Aqui eles não gostam de feijão, mas eu sempre dei um jeito e não fico sem meu feijão.
A comida deles é muito apimentada e carregada demais. Mas eu me virei bem, sou favela, né Pezão? Sem carne não ia dar e até churrasco eu sempre fazia.
Quem diria, Claudio Jesus, o Claudião, manchete em jornal indonês
O mais difícil mesmo é ficar longe dos familiares e os amigos do Brasil. Que saudade de jogar na várzea. Que saudades da minha vó, ela me ajudou muito.
Foi maravilhoso jogar no Arema Malang. Conquistei dois títulos, em dois anos. A torcida do Arema é igual a do Flamengo, muito agitada também.
Sou conhecido por Cláudio Jesus e em 2006 disputei a temporada pro PSM Makassar. Em 2007 joguei no Persibat e agora estou no Persipasi.
Estou com 32 anos e através do Futebolando quero agradecer o Élcio, o Zé Carlos, do Paraná Rod Raf, o Miltão, que Deus o tenha. O Heitor, o Yeye, o General, do Campo Limpo, e toda a minha família.
Mesmo distante, tamos juntos. Vida Loka, né?”